9 de abr. de 2010

'Foi desesperador', diz radioamador que ajudou nos resgates em Niterói

Grupo de radioamadores se mobilizou para chamar resgate.
'As pessoas gritavam embaixo dos escombros', lembra Márcio Ribeiro.

Mirella NascimentoDo G1, em São Paulo

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Os momentos que sucederam o deslizamento que atingiu o Morro do Bumba, em Niterói, foram de desespero e também de solidariedade. Ao saber que dezenas de casas haviam sido soterradas no local, um grupo de radioamadores se mobilizou para comunicar as equipes de resgate o quanto antes.

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Segundo o segurança Márcio Araújo Ribeiro, de 31 anos, eram cerca de 20h30 quando um radioamador que mora no morro deu um sinal de alerta via rádio. "Ele entrou totalmente em desespero. Tinha um amigo que estava com a família soterrada. As pessoas estavam gritando embaixo dos escombros", relatou Ribeiro em entrevista ao G1.

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Ribeiro, diretor de Ensino e Radioamadorismo da Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão do Rio de Janeiro (Labre-RJ), contou que estava na ponte Rio-Niterói, voltando para casa depois de um curso, quando recebeu o alerta no rádio. Desde terça-feira (6) à noite, um grupo de radioamadores voluntários está de plantão para auxiliar na comunicação entre a população do Rio e os órgãos públicos.

Ampliar FotoFoto: Arquivo Pessoal

Radioamador há 15 anos, Márcio Ribeiro diz nunca ter visto tragédia como o deslizamento em Niterói. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Imediatamente, acionamos outros radioamadores. Cerca de 10 foram para a região. Nos dividimos – um ligou para os bombeiros, outro para a Defesa Civil, outro para a Polícia Militar, assim por diante", disse.

No caminho, Ribeiro avisou duas viaturas da polícia que tinha informações sobre um deslizamento em uma área de risco. Ao chegar ao local, ficou chocado com o que viu: "Foi desesperador. Estamos [radioamadores voluntários] acostumados com situações de emergência, mas como aquilo eu nunca vi".

Além das casas soterradas, chamou a atenção de Ribeiro um automóvel de cabeça para baixo. "Um morador me mostrou onde estava o carro antes do deslizamento. Era uma distância de uns 250 metros, no mínimo. Ali, eu vi a dimensão da tragédia", recordou.

Ribeiro acompanhou o resgate – feito, em grande parte, pelos próprios moradores (assista ao vídeo acima) – durante boa parte da noite e se envolveu emocionalmente com a situação das famílias: "A gente que é pai fica muito impressionado, especialmente vendo as crianças presas pelos braços, pelas pernas, nos escombros. Cada vida resgatada é uma vitória".

Cenário de guerra

Márcio Chehab, de 35 anos, também foi ao local depois de ser avisado pelo colega radioamador sobre o deslizamento. Chegou ao morro às 21h e só voltou para casa às 5h. "O cenário era de guerra. Bombeiro gritando pedindo maca, tirando feridos dos escombros. Moradores carregando os vizinhos nos ombros, colocando dentro dos próprios carros para levar para um hospital", contou ao G1.

Chehab, que trabalha com manutenção de equipamentos eletrônicos, ajudou chamando ambulâncias de hospitais da região e manteve contato com radioamadores em diferentes cidades. "Tinham pelo menos mais uns 20 radioamadores, além dos 10 que estavam no local, em suas casas, ajudando com infraestrutura de internet, telefone", relatou.

Ainda na madrugada, eles imprimiram imagens da ferramenta Google Earth para ajudar os bombeiros a ter noção do estrago provocado pelo deslizamento. "Na hora, não tinha como ter ideia do tamanho da destruição. Uma parte do morro sumiu, e com ela as casas que estavam ali".

O radioamador também ressaltou o esforço dos voluntários em ajudar no resgate. "Os moradores estavam usando baldes para tirar os escombros, qualquer coisa que encontrassem pela frente, para tentar achar as pessoas", lembrou. Um dos homens, então, saiu para comprar baldes e distribuir na comunidade. "Numa hora dessas, vale tudo para ajudar. O que aconteceu ontem [quarta] foi um grande exemplo de filantropia".

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