Muitas vezes, ao discutir política, as pessoas se fixam nos rótulos tradicionais de “esquerda” ou “direita”, como se escolher um lado resolvesse todos os problemas do país. Porém, o maior desafio não está necessariamente em adotar uma posição ideológica, mas na postura prática dos próprios cidadãos diante da sociedade.
No discurso do dia a dia, muitos criticam políticas públicas, reclamam do governo e da ineficiência do Estado, mas, na prática, acabam utilizando e dependendo desses mesmos mecanismos. São pessoas que, por um lado, defendem cortes de gastos ou menor intervenção estatal, mas, por outro, aproveitam benefícios como o financiamento da casa própria pelo Minha Casa Minha Vida, usufruem do sistema público de saúde (SUS), matriculam os filhos em escolas públicas, solicitam bolsas de estudo e tantos outros auxílios oferecidos pelo governo.
Esse comportamento contraditório revela um problema maior do que simplesmente ser “de direita” ou “de esquerda”: a falta de coerência e compreensão coletiva sobre o papel do Estado. Muitos querem o melhor dos dois mundos, benefícios públicos sem o custo ou sem reconhecer que dependem deles. Assim, a discussão política acaba esvaziada de conteúdo real e se transforma numa guerra de narrativas, enquanto questões fundamentais permanecem sem solução.
No fundo, a transformação política e institucional só será possível quando houver honestidade no debate público e autocrítica. É preciso reconhecer que todos, em maior ou menor grau, fazem parte do sistema, se beneficiam ou dependem dele em algum momento. A verdadeira mudança começa quando indivíduos entendem as próprias contradições e passam a cobrar soluções, não só dos governos, mas também de si mesmos como cidadãos. Dessa forma, o progresso deixa de ser apenas uma oposição entre “esquerda” e “direita” e passa a ser uma busca coletiva por coerência, responsabilidade e bem comum.
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